sexta-feira, 15 de junho de 2007

Clima

O clima possui forte influência sobre a videira, sendo importante na definição das potencialidades das regiões para a cultura. Ele interage com os demais componentes do meio natural, em particular com o solo, assim como com a cultivar e com as técnicas de cultivo da videira. Pode-se afirmar que grande parte da diversidade encontrada nos produtos vitivinícolas, seja quanto aos tipos de produtos, seja no que diz respeito aos aspectos qualitativos e de tipicidade, deve-se ao efeito do clima das regiões vitícolas. Devem-se considerar três conceitos para diferenciar escalas climáticas de interesse da viticultura:a) macroclima, b) mesoclima, c) microclima,
Elementos Meteorológicos do Clima
Temperatura
A temperatura do ar apresenta diferentes efeitos sobre a videira, variáveis em função das diferentes fases do ciclo vegetativo ou de repouso da planta.· Temperaturas de inverno: a videira é bastante resistente às baixas temperaturas na estação do inverno, quando se encontra em período de repouso vegetativo. Ela pode suportar, sem que haja a morte da planta, temperaturas mínimas de até -10,0°C a -20,0°C no caso da espécie Vitis vinifera L. O frio invernal é importante para a quebra de dormência das gemas, no sentido de assegurar uma brotação adequada para a videira. Em condições de pouco frio invernal, que podem ocorrer nos climas subtropicais, torna-se necessário a adoção de tratamentos e práticas culturais adequados visando garantir uma porcentagem satisfatória de brotação das videiras.· Temperaturas de primavera: de forma genérica considera-se a temperatura de 10°C como mínima para que possa haver desenvolvimento vegetativo; do final do inverno ao início da primavera, quando ocorre a brotação das videiras, temperaturas baixas podem ocasionar geadas tardias que causam a destruição dos órgãos herbáceos da planta. Assim, regiões com elevado risco de geadas durante o período vegetativo da videira devem ser evitadas. O plantio de cultivares de brotação tardia em locais com riscos baixos a moderados de geadas é prática corrente na viticultura. No período de floração da videira, temperaturas iguais ou superiores a 18°C são favoráveis, sobretudo se associadas a dias com bastante insolação e pouca umidade.· Temperaturas de verão: a maior atividade fotossintética é obtida na faixa de temperaturas que vai de 20°C a 25°C, sendo que temperaturas a partir de 35 °C são excessivas. Na estação de verão, a qual via-de-regra coincide com o período de maturação das uvas, temperaturas diurnas amenas - possibilitando um período de maturação mais lento são favoráveis à qualidade. Igualmente a ocorrência de noites relativamente frias favorece o acumulo de polifenóis, especialmente as antocianas nas cultivares tintas e a intensidade dos aromas nas cultivares brancas. Condições térmicas muito quentes podem resultar na obtenção de uvas com maiores teores de açúcares, porém com baixa acidez.· Temperaturas de outono: elas afetam o comprimento do ciclo vegetativo da videira, que é importante para a maturação dos ramos e o acúmulo de reservas pela planta. A ocorrência de geadas outonais (precoces) acelera a queda das folhas e o fim do ciclo vegetativo da planta.
Insolação e radiação solar
A videira é uma planta exigente em luz, requerendo elevada insolação durante o período vegetativo, fator importante no processo da fotossíntese, bem como na definição da composição química da uva. A radiação solar recebida pela planta em determinado local é função da latitude, do período do ano, da nebulosidade, da topografia e da altitude, dentre outros. Normalmente uma maior insolação está correlacionada a um menor número de dias de chuva, o que é favorável, já que as condições brasileiras são de alta umidade no sul do Brasil. Os anos de maior insolação produzem uvas com bons teores de açúcares e com acidez adequada. De uma maneira geral, elevada insolação, quando aliada ao excesso de calor, é prejudicial à qualidade dos produtos para a agroindústria, resultando em mostos pouco equilibrados, com baixa acidez.
Pluviometria
A precipitação pluviométrica é um dos elementos mais importantes do clima em viticultura. A videira é uma cultura bastante resistente à seca. Existem regiões que produzem, sem irrigação, com precipitação pluviométrica de apenas 250 mm a 350 mm no período que vai da brotação até a maturação das uvas. Existem regiões onde ela subsiste em condições ainda mais secas. A demanda hídrica da videira varia em função das diferentes fases do ciclo vegetativo. Para a determinação de suas necessidades hídricas deve-se considerar, também, o tipo de solo e a cobertura do mesmo (vegetado ou não vegetado). Para a videira interfere não somente a quantidade de chuvas, mas sua intensidade e o número de dias ou de horas em que ela ocorre. Ainda, deve-se ter em conta eventuais perdas por escorrimento superficial ou por percolação. As chuvas de inverno têm pouca influência sobre a videira, mas são importantes para as reservas hídricas do solo, necessárias para o início do ciclo vegetativo da videira. Durante a primavera, as chuvas são importantes para o desenvolvimento da planta, porém, quando em excesso, favorecem a ocorrência de algumas doenças fúngicas da parte aérea. De uma maneira geral, observa-se que nas condições sul-brasileiras médias, as chuvas de verão ocorrentes caracterizam um clima de ausência de seca para a videira. Elas tendem a ser excedentárias. Em períodos chuvosos durante a fase de maturação das uvas, verifica-se com freqüência a colheita antecipada das uvas, em relação ao ponto ótimo de colheita. Essa prática adotada pelo viticultor para evitar perdas de colheita causadas por podridões do cacho impõe limites à qualidade das uvas destinadas à agroindústria. Após a colheita das uvas, a importância das chuvas diminui, podendo resultar em crescimento da planta e na ocorrência de doenças fúngicas da parte aérea. Cabe destacar que a ocorrência de granizo é um fenômeno prejudicial à viticultura, onde os maiores danos são causados durante o período do ciclo vegetativo que vai da brotação à colheita das uvas.
Ventos
As correntes de ar que trazem massas de ar com diferentes características repercutem sobre as condições meteorológicas, com implicações sobre a temperatura e a umidade, bem como sobre a evapotranspiração do vinhedo. Ventos fortes podem causar danos à vegetação, com a quebra dos ramos. Na floração uma brisa ligeira é favorável à disseminação do pólen. Além dos elemento meteorológicos referidos é importante salientar a importância da reserva hídrica do solo. Ela é função da capacidade de retenção de água do solo, do aporte de água pela chuva e irrigação, das perdas por escorrimento superficial e por percolação, e da evapotranspiração do vinhedo, que inclui a transpiração da planta e a evaporação do solo. As condições de disponibilidade hídrica do solo para a videira, nos diferentes estádios da planta afetam o desenvolvimento e o vigor dos ramos, influenciando a qualidade da uva destinada à agroindustrialização.
Exposição e declividade
As condições de relevo possibilitam a seleção de áreas para a viticultura com um mesoclima particular. Para a viticultura sul-brasileira é o caso das encostas com exposição Norte. Normalmente, as encostas são menos férteis que as condições de fundo dos vales e com maior insolação e drenagem, possibilitam colheitas menos abundantes, porém geralmente com melhor qualidade. As condições de declividade do terreno irão definir, juntamente com a exposição, a incidência de maior ou menor insolação. Situações de alta declividade do terreno não são recomendadas, seja pelos riscos de erosão, seja pela dificuldade de mecanização.
O clima das regiões vitivinícolas brasileiras produtoras de vinhos finos
A viticultura mundial destinada à agroindústria está sobretudo concentrada entre 30º e 50º de latitude Norte e entre 30º e 45º de latitude Sul. Os principais climas ocorrentes são os climas de tipo temperado, de tipo mediterrâneo e climas com diferentes níveis de aridez. No Brasil os tipos de clima ocorrentes nas regiões vitivinícolas produtoras de vinhos finos com uma colheita anual são de tipo temperado e subtropical. As Figuras 1 e 2 exemplificam condições do regime térmico, de chuvas e de insolação em regiões vitivinícolas produtoras de vinhos finos nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, respectivamente, ambos localizados no Sul do Brasil. Nelas observa-se que o regime térmico é bastante diverso em função da região, sendo que as temperaturas mais elevadas encontram-se na Campanha e as mais amenas em São Joaquim. A insolação também é bastante variável, sendo maior nas regiões da metade sul do Rio Grande do Sul. A distribuição das chuvas ocorre de forma bastante homogênea ao longo do ano nas regiões da Serra Gaúcha, Alto Vale do Rio do Peixe e São Joaquim, com valores médios sempre superiores a 100 ou 120 mm mensais. Já na Campanha e na Serra do Sudeste, em alguns meses as chuvas são um pouco inferiores a 100 mm mensais em média. Registra-se o fato de as figuras 1 e 2 apresentam apenas uma condição climática para cada região, a qual seria mais diversificada caso fosse analisada a variabilidade do conjunto geográfico compreendido pela região. Estas situações caracterizam condições macroclimáticas diferenciadas, com importantes reflexos sobre o comportamento fisiológico da videira e sobre o potencial qualitativo das uvas produzidas em cada região. Tais características indicam também que cada região encontrará melhores condições para a produção de certas variedades, bem como tipos de vinhos. Apresenta a data média de brotação e da colheita, bem como o número médio de dias e a soma térmica da brotação à colheita de algumas cultivares de videiras da Serra Gaúcha. A brotação inicia na 3ª década de agosto para as cultivares precoces e se estende até o final de setembro para as cultivares tardias. A data da colheita concentra-se no período que vai da 3ª década de janeiro até a 1ª década de março, respectivamente para as cultivares de maturação precoce e tardia. Verifica-se que cada variedade necessita de uma soma térmica distinta para atingir a maturação das uvas. Tais valores, que variam entre 1.200 e 1.600 graus-dia para as diferentes cultivares listadas na podem ser utilizados para estimar a data de colheita em outras regiões. Observa-se, no entanto, que esta estimativa pode ser apenas aproximada já que em distintas regiões ocorrem interações entre o clima, a variedade, o solo e as condições de manejo. Em cada região produtora, as variáveis climáticas apresentam comportamento diferenciado ao longo do ano, incluindo as temperaturas, a insolação, a precipitação pluviométrica e os índices climáticos vitícolas. As regiões com maior índice térmico eficaz apresentam uma data de colheita mais precoce que as de menor índice. A apresenta, ainda, a classificação das regiões, para os mesoclimas apresentados, segundo o "Sistema de Classificação Climática Multicritério Geovitícola", demonstrando o enquadramento das regiões em distintas classes de clima em relação ao potencial heliotérmico e regime hídrico do ciclo da videira e à condição nictotérmica afeta à maturação das uvas.
O clima na tipicidade dos vinhos brasileiros
Os fatores de qualidade dos vinhos e outros produtos vitivinícolas nas diferentes regiões é função do clima, do solo, da cultivar, das técnicas de cultivo e dos sistemas de processamento empregados. As características climáticas da vitivinicultura brasileira são bastante particulares e distintas daquelas encontradas na maioria dos países vitivinícolas. Tal situação confere aos produtos um conjunto de características e uma tipicidade própria. Essa tipicidade deve-se em grande parte ao efeito clima. Resulta, igualmente, da ampla gama de cultivares utilizadas. Os vinhos produzidos de uvas européias apresentam tipicidade que varia de região para região nas condições brasileiras.

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